Chanucá não é, e nunca foi uma festa de Natal

Chanucá não é, e nunca foi uma festa de Natal

Introdução

No livro deuterocanônico de 1º Macabeus, no capítulo 4 e versos 52 ao 59, o texto relata que:

(v.52) No ano cento e quarenta e oito da era grega, no dia vinte e cinco do nono mês, o mês de Quisleu, os sacerdotes levantaram-se de manhã bem cedo (v.53) e, conforme a lei prescreve, ofereceram um sacrifício no novo altar onde os sacrifícios iam ser queimados. (v.54) Isto aconteceu três anos depois de os pagãos terem profanado o templo, exatamente no mesmo dia e mês. Os judeus consagraram o templo com hinos e música de harpas, liras e címbalos. (v.55) Todo o povo se ajoelhou e prostraram-se para bendizer o céu pela vitória que lhes tinha dado. (v.56) Durante oito dias festejaram a dedicação (chanucá) do altar; com grande alegria ofereceram holocaustos e apresentaram sacrifícios de salvação e de louvor. (v.57) Enfeitaram a fachada do templo com coroas de ouro e escudos pequenos; consertaram os portões e também os quartos dos sacerdotes e colocaram-lhes portas. (v.58) Ficaram todos muito alegres e contentes, pois a vergonha causada pelos pagãos já tinha desaparecido. (59) Judas, os seus irmãos e todo o povo de Israel resolveram que a festa da dedicação(chanucá) do altar seria comemorada com muita alegria, durante oito dias, na mesma data, todos os anos, começando no dia vinte e cinco de Quisleu.

Com esta escritura, vimos que a Festa de Chanucá foi estabelecida no dia 25 do mês de Quislev e deveria ser festejada por 8 dias consecutivos. Neste ano, 2021, ela teve inicio no por do sol do dia 28/11/2021 (domingo – 25º dia do mês de Quislev) e foi até o dia 06/12/2021(segunda-feira – o 4º dia do mês de Tevet).

Etimologia

Chanucá (חנכה ḥănukkāh), é uma festa judaica, também conhecida como o Festival das luzesChanucá é uma palavra hebraica que significa “dedicação ou inauguração” e que se pronuncia ranucá e Hanuká é a palavra transliterada em português.

Em Chanucá comemora-se a reinauguração do Templo Sagrado de Jerusalém, após a vitória do povo Macabeu por volta do ano 167 a.C.. É celebrada com o acendimento das chanukiyás (8 velas que compõem o candelabro, acendido pelo shamash – chama auxiliar que fica no centro do candelabro).

Pano de fundo histórico (versão resumida)

Após a morte de Alexandre o Grande, em 323 a.C., o seu império macedônico foi distribuído entre os 4 maiores generais do seu exército, que logo transformaram todo o império em uma cultura helenística. Selêuco (358-281 a.C.), um dos 4 generais, teve o seu domínio nas terras da Anatólia, ou como conhecemos hoje, Ásia Menor, que compreende os países da: Síria, Iraque, Irã e Afeganistão. Entre as terras em que seu império foi expandido está a  Turquia, Paquistão, Líbano e Israel, entre outras cidades. 

Desde o ano 200 a.C., os judeus viviam sob o domínio dos selêucidas (dinastia do Imperador grego Selêuco), povo grego que controlava quase todo o oriente médio e tinham o seu comando na Síria.

Em 180 a.C. o tirano Antíoco IV Epifânio (governou a Síria entre 175 e 164 a.C.), tomou posse do trono selêucida, ele encontrou barreiras para o seu domínio total sobre o povo judeu. O modo mais prático para resolver isso, foi impor de maneira firme, a cultura grega sobre os costumes dos judeus, eliminando, assim, qualquer possibilidade que os unificava.

O rei Antíoco IV ordenou que todos aqueles que estavam sob seu domínio, abandonassem a sua religião e os seus costumes. E não o bastante, ele profanou o templo sagrado dos judeus, sacrificando um porco sobre o altar.

Matatias, sacerdote do templo, se opôs a ordem do rei selêucida e reuniu um pequeno grupo de judeus fiéis nas montanhas de Israel, para protestar contra o tirano Antíoco.

Matatias tinha 5 filhos, e um deles, chamado Judas, o Macabeu (em grego – martelo), foi quem liderou o “exército” de Israel. Judas contava com 12 mil homens em seu grupo, homens inexperientes na arte da guerra, mas juntos derrotaram um dos maiores exércitos daquela época, que contava com mais de 40 mil homens. Com estratégia e sabedoria de Deus, Judas expulsou os gregos e reassumiu o Templo Sagrado de Jerusalém.

Com este feito, o serviço de Deus dentro do Templo foi restabelecido. Quando eles procuraram acender a Menorá do Templo (o candelabro com sete braços), encontraram apenas uma pequena ânfora de azeite de oliva que tinha escapado da contaminação dos gregos. Milagrosamente, o azeite que havia numa botija e que duraria apenas um dia, queimou no candelabro do Templo por oito dias. Este é o motivo dos nove braços da Chanukiá, sendo o braço do meio, mais proeminente, denominado Shamash (servente, auxiliar), pois a vela que é colocada neste braço é usada para acender as velas que são colocadas nos outros oito braços.

Foi através deste milagre que foi instituído a Festa de Chanucá (da dedicação ou reinauguração do templo purificado).

O que significa Chanucá?

O que esta festa tem a ver com Natal? Nada.

Talvez pela ignorância do povo cristão em entender que o mês de Quislev, algumas vezes cai no mês de dezembro. E que o texto sagrado fala que a festa é comemorada no dia 25 do mês. Veja que neste ano, 2021 por exemplo, Chanucá caiu entre 2 meses: 9 e 10 do calendário judaico; 11 e 12 do nosso calendário.

Talvez porque em Chanucá se acende muita luz, e coloca a chanukiá na janela para que o povo não cristão veja que houve uma vitória do povo judeu sobre o exército grego. Lembrando que não é só na janela, porque em algumas cidades é acessa uma chanukiá na entrada da cidade ou no lugar principal.

Vamos deixar claro que, Chanucá para nós cristãos é uma festa profética, enquanto que o Natal é uma festa pagã que a Igreja Católica cristianizou a data, para tirar o foco das festas pagãs que eram comemoradas na mesma época.

Chanucá:

  • Nos faz entender que as luzes de chanukiá diferente da menorá do templo, é acessa no começo da noite.
  • Faz compreender que a luz deve sempre imperar sobre a escuridão.
  • Do ponto de vista histórico, apendemos com os macabeus que não devemos concordar com a imposição política de qualquer tirano que aparece, tentando infringir os costumes cristãos.
  • Nos leva perceber que com a história dos macabeus, Jesus não veio trazer a paz, como muitos crentes pensam, com a conversinha de “paz do senhor pra lá e pra cá”, pelo contrário, ele veio trazer a espada (Mt. 10.34). Eu estou com Jesus, na guerra! E você?
  • É sair da zona de conforto, esta é a mensagem mais forte da festa.
  • Nos deixa claro que não devemos aceitar qualquer mudança nos costumes e nem na tradição cristã.
  • Não deixa que o seu “templo” seja profanado pelos “gregos”.
  • Ensina que devemos projetar a luz para o mundo, mas para isso é necessário alguns sacrifícios.
  • Denuncia que para aumentar a luz é necessário guerrear contra os “antíocos”.
  • É para você iluminar aqueles que estão a sua volta, para isso você precisa estar na luz.
  • Aponta para 1Ts 5.4-8 – que somos da luz, do dia, e não da noite, da escuridão.
  • Mostra que o velho sacerdote Matatias nos ensinou uma lição que não podemos está SATISFEITOS pelo que já sabemos ou pelo que TEMOS (menorah), precisamos de uma CHANUKIÁ (mais hastes acessas para iluminar a nossa vida).

Concluindo

Outra lição importante que aprendemos com as velas de chanukiá, é que elas só podem ser acessas uma por uma, ou seja, não podem ser acessas todas de uma vez. Há uma mitzvá (mandamento) para cada dia e para cada lâmpada acessa. A regra de acender uma luz dentro de nós deve ser uma constante, e não vai ser correria do dia a dia, no piloto automático, que este fogo vai ser acesso.

Este fogo do Espírito Santo é acesso paulatinamente em nossas vidas, e isso depende do volume da nossa entrega, da nossa busca e devoção. Esta luz é acrescentado em nossas vidas por Jesus com uma única finalidade, de vencer o mundo (1Jo. 5.4). Lógico que para isso, precisamos passar por todo o processo: arrependimento, novo nascimento e batismo no Espirito Santo.

Entendo que as luzes de Chanucá, só terá representatividade na vida do cristão, quando ele, diariamente, se empenhar na oração, no louvor, sinceridade e arrependimento. Aí o azeite que alimentou milagrosamente a chanukiá do Templo no tempo dos macabeus, alimentará a sua vida por completo. E nunca mais precisará de ninguém!

 

Mazel Tov Chanucá!

Reginaldo Faria
Teólogo e Mestre

06 de dezembro 2021
02 de Tevet de 5782

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FIT

FACULDADE INTEGRADA DE TEOLOGIA